Esse termo pode até ser novo mas, infelizmente, esta é uma triste prática presente nos processos políticos e eleitorais há bastante tempo. Só assim poderemos ter eleições mais justas e, principalmente, espaços políticos plurais e respeitosos para todas as pessoas que compõem a política brasileira.
Continue a leitura e saiba mais sobre esse tema!
Afinal, o que é violência política de gênero?
Quando falamos em violência política de gênero nos referimos a um conjunto de agressões direcionadas a mulheres cis e trans (clique aqui para saber mais sobre identidades de gênero). Essas agressões podem ser:
- psicológicas: humilhações, agressões verbais, ameaças, constrangimentos, dentre outras.
- simbólicas: intimidar mulheres e fazê-las se sentirem inferiores a homens
- físicas: tapas e demais ataques físicos
- sexuais: assédios e outras violências sexuais
As mais recorrentes são as ofensas, intimidações, ameaças e humilhações – que se enquadram na violência psicológica mencionada acima – e que tem como objetivo impedir o acesso das vítimas aos espaços políticos, seja na disputa eleitoral, no exercício de mandatos ou em suas manifestações políticas.
Segundo a Revista AzMina, a violência política de gênero é um fenômeno que atravessa fronteiras e impacta o exercício da vida política de mulheres, pessoas negras, LGBTQIAP+ e idosas.
A violência política de gênero é um dos principais fatores para a baixa representatividade feminina nas Câmaras Municipais, Prefeituras, Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional (composto pelo Senado e pela Câmara dos Deputados) já que estes espaços se tornam inseguros mesmo depois de eleitas.
Ela se faz presente em interrupções de falas, comentários vexatórios sobre a aparência, idade ou a orientação sexual, falas racistas, assédios, dentre tantas outras maneiras.

A violência política de gênero anda de mãos dadas com outras opressões
Nas eleições de 2020, a Revista AzMina, em parceria com o Instituto Update e o InternetLab, lançou o projeto MonitorA para mapear o discurso de ódio direcionado a candidatas e um dos primeiros fatores a ser identificado foi que além do gênero, o racismo, a gordofobia e a LGBTfobia também se fazem presentes nas violências perpetradas contra essas candidatas.
O relatório do MonitorA aponta que as violências políticas de gênero sofridas por mulheres negras, por exemplo, trazem conotações racistas e que essas mesmas violências sofridas por mulheres LGBTQIAPN+ são repletas de ataques a suas orientações sexuais, expressões ou identidades de gênero. Além disso, muitas candidatas também sofreram com a gordofobia e também com o etarismo – discriminação e aversão a pessoas idosas.
É importante lembrar que as eleições de 2020 foram as primeiras que tivemos durante a pandemia de Covid-19 e, por isso, houve uma concentração maior de atividades feitas virtualmente. Além disso, a polarização política das eleições de 2018 se tornou ainda mais tensa nas eleições de 2020 e esse combinado fez com que várias candidatas no Brasil fossem vítimas de ataques nas redes sociais.

Homens envelhecem, engordam, também têm suas orientações sexuais, identidades de gênero, certo? Mas, ao monitorar os ataques sofridos por candidatos, o que foi constatado pelo MonitorA é que aos homens – especialmente homens brancos e cisgêneros (aqueles que se identificam com o sexo biológico que nasceu) – são direcionados ataques e críticas a suas competências políticas ou a fatos atrelados a suas carreiras parlamentares. A pergunta a ser feita não é porque eles também não são atacados. E sim: por que a política ainda não é um lugar seguro para as mulheres?
Uma das causas apontadas pelo MonitorA é que a violência política de gênero é fruto das desigualdades de gênero, LGBTfóbicas, etárias e étnico-raciais existentes em nossa sociedade.
O relatório aponta também que os discursos de ódio e os inúmeros ataques que acontecem na internet reforçam a ideia de que existe hierarquia entre diferentes grupos sociais.
Não é mera coincidência esse índice num país que não tem políticas públicas de combate ao racismo, a LGBTfobia e a desigualdade de gênero, né?
O que podemos fazer para combater a violência política de gênero?
É papel de todas as pessoas se posicionarem diante da violência política de gênero. Recentemente, várias entidades da sociedade civil se uniram para assinar um manifesto pelo fim da violência política e por uma democracia sem ódio.
Mas é fundamental que esta seja uma bandeira de luta de todes. Por isso, seguem abaixo algumas ações que você que nos lê agora pode tomar diante da violência política de gênero e assim, contribuir para que ela não paute as próximas eleições no Brasil. Confira:
1 – Não seja tolerante com comentários preconceituosos
Nas rodas de conversa, nos debates políticos ou entre familiares, não deixe passar despercebidos comentários preconceituosos como se fossem opinião. Comentários gordofóbicos, racistas, sexistas não podem ser tolerados quando o que está em debate é a democracia e a segurança, a integridade e a segurança das pessoas. Que as críticas sejam em torno dos projetos políticos das candidatas.
2 – Não tolere posturas preconceituosas de parlamentares eleitos
A violência política de gênero acontece também nos parlamentos. Se você pesquisar casos de violências sofridas por mulheres parlamentares, você vai encontrar casos recentes.
Mulheres que foram interrompidas durante suas falas, que foram alvo de comentários sexistas por outros parlamentares, assediadas e atacadas. Cobrar esses parlamentares a mudar suas posturas é o primeiro passo para tornar a política um lugar mais seguro para mulheres.
3 – Não ponha em xeque a palavra das mulheres vítimas de violência política de gênero
Como foi dito no tópico anterior, não é difícil encontrar casos de violências políticas de gênero no Brasil. “Mas será que foi isso mesmo?”, “Ela deve tá fazendo isso pra prejudicar a carreira dele na política”, são algumas das muitas coisas que as parlamentares vítimas de violência política de gênero escutam quando suas histórias se tornam públicas.
Ao tomar conhecimento de alguma violência dessa natureza, não ponha em xeque a idoneidade das vítimas.
4 – Apoie candidaturas que respeitem e se posicionam contra as desigualdades sociais
Uma boa forma de mudar o cenário político é eleger candidaturas que demonstrem empatia, respeito e, principalmente, projetos que visam enfrentar as desigualdades sociais que culminam na violência política de gênero.Tem acompanhado os debates sobre as eleições na sua região? Tem acompanhado as pautas que têm sido debatidas pelos pré-candidatos e pré-candidatas? Sabe o que eles tem a oferecer no combate à desigualdade de gênero? O que eles pensam sobre isso? Ao escolher quem vai receber seu voto, escolha quem tem compromisso com essa pauta.
Para saber mais sobre o MonitorA, baixe o relatório deste projeto.
Agora, conte pra gente: o que você pensa sobre este assunto? Deixe aqui seu comentário! Aproveite também para compartilhar este conteúdo nas suas redes sociais para que tenhamos mais pessoas combatendo a violência política de gênero e defendendo a democracia brasileira.