O sol já está brilhando em Escorpião, mas quem está embaixo dos holofotes não são os escorpianos e sim a senhora COP. Caso você já seja do movimento ambiental sabe do que estamos falando, mas caso não seja, aqui vai uma breve explicação. Do dia 31 de outubro a 12 de novembro de 2021 todos os olhos estarão voltados ao evento mais importante sobre o clima, a conferências das partes da ONU sobre mudanças climáticas, a COP 26, que esse ano acontecerá na cidade de Glasgow na Escócia. O evento reúne líderes do mundo todo, tanto chefes de Estados e diplomatas quanto lideranças jovens, líderes do setor corporativo e organizações não governamentais nacionais e internacionais. A conferência que ocorre anualmente é palco de decisões políticas ambientais e este ano a pressão para que a COP26 saia com resultados concretos está maior que o pico do monte Everest.
Me diz se o babado não é forte? O evento que vai literalmente decidir o futuro do nosso planeta está nas mãos dos nossos líderes políticos. Nesse momento, ambientalistas encontram-se em posição fetal chorando, como estivemos desde 2018. :’)
Porém, entretanto e todavia, a luta pela defesa do meio ambiente e combate às injustiças climáticas, não devem ser algo baseado puramente em seu caráter econômico, como muitas vezes tratados nessas reuniões: ela deve avançar para uma perspectiva de interpretação como um direito fundamental, que aliás é nosso direito, como escrito num lugar que parece ser importante: a constituição Federal no artigo 225 que diz na íntegra:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

A crise climática deve ser reconhecida e os seus impactos usados como direcionadores de todas as atividades que movem a sociedade, e seus impactos nas comunidades mais vulneráveis minimizados. Como diz Isvilaine Silva, ativista negra do interior do Rio de Janeiro e fundadora do Ambientalking, “os esforços do governo deveriam estar em manter a população viva”.
A juventude luta por direitos ambientais para proteger a sobrevivência de sua geração
Partindo de uma outra camada de participação nas COPs, encontramos as manifestações da juventude ativista. Engajados em busca de soluções e inseridos em contexto de racismo ambiental e ansiedade climática, os jovens buscam espaços de protagonismo para que consigam, a partir de um diálogo com tomadores de decisão, os fazer tomarem decisões que otimistamente afetem o seu futuro de maneira positiva.
Como exemplos, a juventude do Engajamundo em sua delegação para a COP26, carrega propostas a tomadores de decisão estatais e privados a nível subnacional que abordam a justiça climática como condição para as propostas de financiamento climático, NDCs ((sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada que envolve compromissos voluntários criados por países assinantes do Acordo de Paris) brasileiras e emissão de carbono.
O aumento de devastações ambientais da floresta amazônica e intensificação dos reflexos da crise climática no dia a dia da juventude brasileira têm causado vastas preocupações e incertezas do futuro, e a crise política e econômica existente no atual governo brasileiro intensificam as preocupações da juventude, que não têm promessas ou perspectivas de melhoria.
Para além do número de jovens eleitores entre 16 a 29 anos, que ultrapassou 35 milhões no ano de 2020, há também a questão da conscientização política que não só vem sendo intensificada entre a juventude, como também a juventude tem a disseminado em suas comunidades através de diálogos e redes sociais. Assim, propostas que englobem a justiça climática e reflitam ações que se refletirão na prevenção de acidentes ambientais em periferias, aldeias e zonas vulneráveis, também serão propostas analisadas pela juventude eleitora dos políticos candidatos, que querem ações que impactem nos seu dia a dia e no de suas comunidades.
Caros candidatos, se liga hein, fiquem ligados!
Nós, enquanto sociedade, estamos tomando cada vez mais consciência da crise climática, e isso está rolando bem na marra, até porque as consequências das mudanças climáticas estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. Entendendo que não dá mais para adiar as ações climáticas, os candidatos à presidência da república e ao congresso nacional de 2022 deverão destacar propostas socioambientais em suas propostas e em seus discursos políticos para chamar a atenção das massas, até porque não podemos deixar essas ações emergenciais para depois.
As desigualdades escancaradas pela Pandemia do COVID-19, mostrou que precisamos de líderes que escolham salvar a vida de seus eleitores. Sob nossos olhos de juventude que ocupa periferias, aldeias e sertões, vimos mortes invisibilizadas de pessoas em situação de rua e em zonas mais pobres, frutos de uma doença que têm sua origem debatida em desequilíbrios ambientais, e por isso o pós pandemia deve estar cercado de medidas que recuperem tanto às questões econômicas que afetam na desigualdade social expressiva no nosso país, que tem sido cada vez mais debatida, como que visem uma recuperação ambiental, até porque ainda nos lembramos do Pantanal queimando e do Amapá apagado, e esses cenários de desespero não refletem nossa visão otimista de futuro! Todos esses passos exigem criação de empregos verdes, uma ambição real e efetiva de neutralidade de carbono – e não para as próximas três décadas – e NDCs ambiciosos e abaixo do famoso 1.5 determinado no acordo de Paris. Muito trabalho para os próximos candidatos, mas é para isso que os pagamos, certo?
Como dissemos no começo, nossos líderes políticos tomam as decisões de como nosso país irá enfrentar a crise climática, ter alguém que despreza a crise climática nas decisões políticas será prejudicial a todos nós. Cobrar ações relacionadas ao clima é algo que já fazemos como juventude, mas essa cobrança também terá que acontecer nas urnas e pós eleições. Nós estaremos de olho, pelo nosso presente e pelo futuro de novas gerações.
Camille Cristina da Silva é uma pisciana com uma essência aquariana. É apaixonada por viagens, natureza, conhecer diferentes culturas, filosofia, música e instrumentos musicais, além de possuir um olhar amoroso pela vida e um coração movido pelas justiças sociais. É co-fundadora do Coletivo MAABI, que aborda a equidade racial para negros e indígenas dentro das universidades e através do seu projeto “Justiça entre Mundos” aborda as diferentes vertentes da injustiças sociais buscando promover uma reflexão coletiva de como podemos chegar a um mundo mais justo.
Isvilaine da Silva Conceição é amiga de árvores, ama aprender novos idiomas e tem o sonho de ser poliglota. É a escorpiana mais amável que você vai conhecer, ama fazer contatos e conversar. Sempre encontra dificuldade em responder a pergunta: quando se tornou ativista? pois não se lembra de um dia não ter sido. Fala de clima pela iniciativa Ambientalking que tem o objetivo de racializar as pautas ambientais por meio de informação e diálogos com vozes racializadas especialistas nos assuntos, assim descolonizando o clima.