Mais da metade do eleitorado (62%) prefere votar em candidatas mulheres; e 79% preferem votar em candidatos negros e indígenas. Em um país onde o Congresso é formado sobretudo por homens brancos, os resultados da nova rodada da Pesquisa +Representatividade, do Instituto Update, parecem surpreender. No entanto, eles apenas reiteram o que já havia sido identificado em 2020, na primeira rodada da pesquisa: o eleitorado deseja um Congresso com maior representatividade.
A pesquisa, aplicada pela empresa de Opinião Pública Netquest, com questionário e desenho formulados pelas pesquisadoras do Instituto Update, contou com 2.318 respondentes em todo o país. Entre as pessoas que disseram preferir votar em um candidato não branco, 51% afirmaram que preferiam votar por pessoas negras e 28% em indígenas.
Entretanto, o que chama a atenção é que, na prática, muitas pessoas que afirmam desejar votar em mulheres e em pessoas negras e indígenas acabam, na hora da urna, escolhendo homens brancos: é só olhar para os resultados das eleições. Podemos encontrar outras pistas sobre essa aparente incoerência na própria pesquisa. Por exemplo, mais da metade das pessoas declaram que preferem votar em quem já foi eleito uma ou duas vezes; como mais homens têm experiência prévia na política, isso pode acabar fortalecendo o voto nos candidatos já conhecidos. Outra pista: a ideologia do candidato e ser indicado por alguém de confiança têm mais que o dobro de influência na decisão do voto que o sexo ou a raça do(a) candidato(a).
Em resumo, de fato, as pessoas afirmam que querem votar mais em mulheres e em pessoas negras e indígenas, porém outros fatores, como as próprias chances de o(a) candidato(a) ser eleito(a), e, com isso garantir que o voto não será desperdiçado, acabam fazendo com que o eleitorado priorize critérios diferentes na hora de decidir quem será o seu ou a sua representante.

Justamente para tentar entender com mais nuances os dados fornecidos pela pesquisa quantitativa, a Pesquisa +Representatividade realizou 5 grupos focais, com 8 pessoas cada um, em cinco cidades – Salvador (BA), São Gonçalo dos Campos (BA), São Paulo (SP), Montemor (SP) e Iranduba (AM). A eles, perguntamos sobre em quem votariam e quem acreditavam que poderia ganhar. A maioria dos participantes disse que votaria em mulheres e em pessoas negras, porém, quando perguntados sobre quem tinha mais chances de se eleger, as respostas sempre levaram aos homens brancos. Assim, também questionamos se, em geral, as pessoas votavam em quem consideravam que poderia se eleger. Nesse caso, novamente, os grupos foram quase unânimes em dizer que ninguém quer “desperdiçar seu voto”.
Para além dos grupos majoritários sub-representados, isto é, mulheres e pessoas negras, a pesquisa de abordagem nacional buscou identificar a opinião do eleitorado quanto à reserva de vagas no parlamento para alguns grupos minoritários, como indígenas, Pessoas com Deficiência (PcD) e quilombolas. O resultado foi que 63% das pessoas perguntadas acreditam que o Congresso deveria reservar assentos para pessoas de grupos específicos. Perguntados sobre quais grupos deveriam ser prioritários, a maior parcela, 18,84%, afirma que o parlamento deveria reservar vagas para Pessoas com Deficiência (PcD); 12,63%, que deveria ser para indígenas e 12,59% dizem que a reserva de assentos deveria priorizar jovens. Os perfis em destaque são bastante semelhantes às opiniões expressas nos grupos focais, que também demonstraram a preferência por reserva de vagas para Índigenas, PcD e jovens. Um detalhe importante, sobre este mesmo tema: pela percepção extraída dos grupos focais, ainda existe bastante desconhecimento quanto às populações quilombolas e ribeirinhas. Quase nenhum dos 40 participantes conseguiu mencionar do que se tratava.
Confira o áudio de Malu Gatto sobre a mais recente pesquisa do projeto +Representatividade.
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