Eleger um novo presidente e escrever uma nova constituição: qual é o futuro do Chile?

Apesar das pesquisas de intenção de voto às vésperas do segundo turno, essas são as eleições mais incertas em pelo menos 30 anos no Chile.

Neste domingo (19) chilenas e chilenos irão às urnas para o segundo turno das eleições presidenciais. Mesmo com a vantagem no primeiro turno por dois pontos do representante da extrema-direita, José António Kast, do partido Republicano, as últimas pesquisas eleitorais apontam para a vitória de Gabriel Boric, da coalizão de esquerda, Apruebo Dignidad (Frente Ampla e Partido Comunista).

Apesar das pesquisas de intenção de voto às vésperas do segundo turno, essas são as eleições mais incertas em pelo menos 30 anos no Chile. As possibilidades de previsão do resultado de domingo são poucas e a maior certeza até agora é a perda de protagonismo dos partidos tradicionais da centro-esquerda e centro-direita, e o surgimento de novos atores que podem polarizar o debate em um país historicamente moderado. 

A vitória de Kast no primeiro turno não pode ser vista como uma surpresa já, mesmo com a explosão social dos últimos dois anos, o Chile é um país conservador, as forças que dominaram a burocracia estatal durante a ditadura de Pinochet seguem presentes, e ao norte, a questão migratória em atraindo a cidadania para o discurso de segurança social monopolizado pela extrema direita.

+ Esse foi o tema do podcast O Assunto, do G1, com participação de Beatriz Della Costa, cofundadora do Instituto Update.

No domingo, as atenções estarão voltadas principalmente à abstenção eleitoral que bateu recorde no primeiro turno – 53% dos chilenos não foram votar – e também à escolha daqueles que optaram pelo terceiro lugar, Franco Parisi no primeiro turno, um empresário de direita que fez toda a campanha nos Estados Unidos.

O novo presidente e a nova constituição chilena

A maior novidade destas eleições é que elas ocorrem ao mesmo tempo em que uma Convenção Constitucional, conformada principalmente por indivíduos independentes mais alinhados à esquerda, está escrevendo uma nova Carta Magna para o país. Para a Convenção, a eleição de Gabriel Boric pode deixar os trabalhos menos difíceis, enquanto que a vitória de José António Kast, que foi contra o plebiscito que aprovou a constituinte, certamente colocará obstáculos para aprovação da nova constituição, o que pode ser agravado com a nova maioria de direita no Senado.

+ A cofundadora do Instituto Update, Beatriz Della Costa, escreveu uma análise sobre as eleições presidenciais chilenas e a Convenção Constitucional em curso para o Jornal Estado de São Paulo. 

Em busca da vitória no próximo domingo, ambos os candidatos seguem moderando seus discursos para se aproximarem dos eleitores do centro. As forças progressistas já declaram apoio à Gabriel Boric frente à ameaça que José Antonio Kast apresenta para o retrocesso dos direitos sociais que o Chile vem conquistando nos últimos anos e que foram tão presentes nas manifestações de 2019.

Apesar da incerteza quanto aos resultados de domingo, um governo de ultra-direita teria muita dificuldade de formar governo e legitimidade popular em um Chile totalmente marcado pelos maiores levantes sociais da história recente da América Latina. O trabalho da Convenção Constitucional, paritária e popular, segue sendo a maior inovação política em curso da América Latina e seguirá sendo, com a vitória de Boric ou Kast. 

+ O Instituto Update está documentando o passo a passo da Convenção Constitucional chilena, a primeira com paridade de gênero no mundo, no projeto Nuestras Cartas, em aliança com a Fes Chile. 

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