Imaginar, conectar e construir

O Instituto Update em 2022

O Instituto Update estuda a inovação política e estimula a imaginação política no Brasil e na América Latina, propondo estratégias e práticas que aproximam cidadãs e cidadãos do exercício político, combatem as desigualdades e fortalecem a democracia. Em um ano tão decisivo quanto 2022, portanto, não haveria como não nos voltarmos, acima de tudo, para as eleições, para o voto, para a representação e para a representatividade.

Começamos mapeando iniciativas em todo o Brasil dedicadas a formar, mobilizar e criar redes de incentivo a candidaturas de mulheres, indígenas, pessoas negras, LGBTQIAPN+, com deficiência, periféricas e quilombolas para potencializar a atuação estratégica desses grupos nas eleições de 2022. Mas o mapeamento foi apenas o primeiro passo de uma série de atividades colocadas em prática ao longo de todo o ano. 

Encontro do projeto +Representatividade realizado em Recife. Créditos: Thais Medus4

Com o projeto +Representatividade, realizamos encontros em Recife e Belém,  um programa de aceleração para 20 iniciativas e  formações para pré-candidaturas indígenas em São Paulo. Foram trocas incríveis sobre estratégia de campanha, engajamento e gestão, planejamento de comunicação, mídias sociais, design, segurança nas redes e muito mais. Para além do compartilhamento de conhecimento e informações para fortalecer as equipes dessas campanhas, os encontros funcionaram como espaços abertos e livres para o intercâmbio de experiências e a prática de escuta.

I Seminário das Originárias da Terra. Créditos: arquivo do Instituto Update

Não podemos deixar de destacar o I Seminário das Originárias da Terra, parceria do +Representatividade com a ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade) que, logo após o primeiro turno das eleições, reuniu em Brasília dezenas de indígenas mulheres que haviam se candidatado ao pleito – entre elas as deputadas federais eleitas Sônia Guajajara e Célia Xakriabá. Foi um fim de semana inspirador que teve como objetivo acolher, motivar e dar visibilidade a mais mulheres indígenas no cenário político.

O ano de 2022, aliás, foi repleto de conversas maravilhosas. Como parte do projeto Nuestras Cartas, que acompanhou e documentou a nova convenção constituinte chilena pela perspectiva das mulheres, a primeira realizada com paridade de gênero, promovemos em São Paulo, em parceria com a FES Chile, o encontro La Mitad, com dezoito convidadas de quatro países latino-americanos: Brasil, Chile, Colômbia e México. 

Encontro La Mitad. Créditos: arquivo do Instituto Update

A proposta foi proporcionar a troca de visões e aprendizados sobre o conceito de paridade a partir de diferentes linhas e cenários culturais, disseminando exemplos e práticas inovadoras que marcaram processos conjuntos na América Latina. A nova Constituição chilena, infelizmente, foi rechaçada em plebiscito, mas o encontro serviu justamente para ajudar a fazer com que essa experiência única ainda possa render belos frutos – não só no Chile, mas também no Brasil e em toda a América Latina.

E as conexões se deram tanto no presencial quanto no virtual.  A Im.pulsa, plataforma on-line, aberta e gratuita cujo objetivo é apoiar mulheres a se sentirem confiantes para movimentar a política institucional brasileira e latino-americana com mais diversidade e representatividade, mais uma vez entrou em ação. A iniciativa, em parceria com a ONG Elas no Poder, ofereceu, ao longo do ano, formação política por meio de produtos práticos – guias, ferramentas, videoaulas e estudos de caso – com linguagem acessível, afetiva e produzida de maneira colaborativa por e para mulheres. Mais de 100 mil usuárias já foram impactadas.

Está no nosso DNA: desde a sua criação, o Instituto Update vem incentivando a imaginação política na prática por meio de tecnologias. Junto da Im.pulsa, a plataforma Liane esteve a todo vapor: é um software livre que facilita a gestão de campanhas políticas em toda a América Latina, dando acesso a ferramentas poderosas para profissionais de mobilização.

Mas, além de ouvir e apoiar candidaturas e equipes de campanha, também estamos atentos ao outro lado – o do eleitorado. O +Representatividade, paralelamente às formações, realiza pesquisas constantes para aprofundar a compreensão das preferências e das motivações dos eleitores. Este ano, mais uma vez, percebemos que brasileiros e brasileiras manifestam preferir votar em candidatas mulheres (62%) e pessoas não brancas (79%, sendo 51% negras e 28% indígenas), embora, no fim, estejam mais propensos a votar em quem já teve mandato – homens brancos em sua maioria.

Outros levantamentos olharam especificamente para as eleitoras. Duas pesquisas, uma quantitativa de opinião pública, encomendada à Ideia Big Data, e outra qualitativa exploratória, executada por Camila Rocha e Esther Solado com mulheres que votaram em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e jovens indecisas, evidenciaram a urgência da criação de novas estratégias para entender como os feminismos se articulam com as necessidades e as diversidades das mulheres para gerar diálogos construtivos em torno de valores comuns.

Daí nasceu o livro Feminismo em disputa: um estudo sobre imaginário político das mulheres brasileiras, publicado pela Editora Boitempo, que tem como autoras Beatriz Della Costa, diretora e cofundadora do Instituto Update, e as pesquisadoras Camila e Esther. O texto apresenta e analisa as duas pesquisas, buscando, por meio do diálogo, ampliar os direitos e a participação política de mulheres no Brasil.

Também nos voltamos à emergência climática com a terceira edição do Gabinete de Inovação, parceria com o Instituto Clima e Sociedade, a Frente Parlamentar Ambientalista dos Vereadores e a Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA). Reunindo mandatos de casas legislativas de todo o país e conectando-os a especialistas da área socioambiental, foi um laboratório que buscou contribuir para a construção das metas municipais na NDC brasileira no Acordo de Paris e fortalecer os municípios frente à ação climática.

Com todas essas ações, esperamos ter atiçado pelo menos um pouquinho a imaginação política brasileira – que, ao contrário do que a palavra pode dar a entender, não tem nada a ver com ficções e fantasias.

É, pelo contrário, com a imaginação política que construímos realidades, que construímos o futuro, que construímos o Brasil e o mundo que queremos e precisamos. Em 2023, vamos seguir imaginando, conectando e construindo.

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