Por: Helena Salvador
Pensar em inovação política requer um exercício de restauro. A palavra “Inovar” significa fundamentalmente: tornar novo; renovar ou restaurar, termo que surge, epistemologicamente, da ideia de “voltar a colocar de pé ou voltar a estabelecer as bases”. Por isso, restaurar a política é então um chamamento às novas gerações para ocupar espaços que já não funcionam, que já não operam com a lógica democrática de representação da cidadania e da diversidade e portanto, devem ser restaurados.
As juventudes, em toda América Latina, estão cumprindo com esse chamado, mesmo com todas as dificuldades de muitas vezes não serem levadas a sério, como contaram Larissa Dionísio, coordenara do estudo Emergência Política Jovem, e Bruno Dias para o jornal El País.
Quando falamos de “juventudes” (sim, no plural!) estamos reunindo um grupo extremamente diverso, mas que pode ser identificado por um denominador comum: o potencial de construção de futuro a partir das ações e atuações hoje e agora, e que conta com uma herança política – um descontentamento acumulado pelas gerações anteriores – para mudar a realidade da democracia como conhecemos.
As juventudes são também urgência: elas respondem rapidamente e de forma massiva aos acontecimentos políticos, principalmente nas redes e nas ruas, no Brasil e em toda América Latina, onde representam uma saída progressista e democrática frente ao avanço conservador dos governos de direita em toda a região. Por isso, Listamos 5 movimentos políticos das juventudes que vem estabelecendo novas bases para a democracia latino-americana da forma como conhecemos.
Justiça climática como pauta das juventudes
A organização Engajamundo reúne as juventudes ativistas para um Brasil mais Sustentável. O Engajamundo surgiu depois que grupos de jovens não se sentiram representados na Conferência Rio+20 e buscaram uma alternativa para a mobilização da população que tivesse uma identidade interseccional, diversa e propositiva. O Engajamundo surgiu também como um espaço para que as pautas das juventudes ganhassem legitimidade para serem levadas às instâncias da política institucional e por isso, também, a organização é referência no tema da Emergência Climática.
#LosJóvenesTienenLaPalabra
Na colômbia, após os protestos de 2021, os maiores da história do país, um grupo de congressistas jovens de diferentes partidos políticos lançaram a iniciativa #LosJóvenesTienenLaPalabra, e percorreram as cidades do país com maior índice de desemprego jovem para uma série de encontros abertos com as juventudes. A ideia dos deputados e deputadas mais jovens do parlamento colombiano foi buscar converter a indignação das ruas em oportunidades para uma reforma nas instituições do país.
21 anos e escrevendo uma Constituição
Valentina Miranda foi a porta-voz da Coordenação Nacional dos Estudantes Secundaristas chilenos durante as manifestações dos estudantes, que foi o movimento anterior aos grandes protestos de 2019 e 2020, e é hoje a constituinte mais jovem na Convenção chilena. Valentina defende que “existe um adultocentrismo malvado que assume que um jovem de 16 anos não tem autonomia nem critério para tomar decisões. Mas o que os estudantes secundários começaram, hoje está refundando todo o Chile.”
Patria y Vida é um grito de juventudes
Em Cuba ficou claro que durante os protestos que ocorreram no mês de julho, os maiores do século na ilha, que foram os “netos da revolução”, ou a terceira geração de cubanos desde a revolução de 1969 que ocuparam as ruas. Um ator importante dessa tensão social é o Movimento San Isidro, um coletivo da nova geração de artistas cubanos.
Geração Bicentenária peruana contra o golpe
Em novembro de 2020 as ruas do Peru foram tomadas por jovens que denunciavam o golpe do Congresso Nacional peruano contra a democracia do país. Os jovens lançaram a ideia da “Generación del Bicentenario” para gerar uma identidade em comum entre as juventudes diversas para que elas pudessem se unir para defender a democracia. O movimento teve que enfrentar a ação violenta da polícia, que resultou na morte de são Jordan Inti Sotelo Camargo, de 24 anos, e Jack Brian Pintado Sánchez, de 22 anos. Hoje, a conhecida como Generación B., é um importante ator político no Peru.