Por Helena Salvador
Depois das maiores eleições da história, o saldo de mulheres governadoras expõe o sucesso das medidas de paridade para impulsionar as candidaturas femininas
Nos últimos quarenta anos, 6 mulheres foram eleitas governadoras nos 32 estados mexicanos. Na última eleição do dia 6 de junho, 6 mulheres foram eleitas nos 15 estados em que ocorreram disputas eleitorais. Como, em apenas um pleito, foi possível dobrar a cifra de representação feminina no executivo estadual de mais de quatro décadas?
A resposta é simples: já não bastam as cotas de gênero, que costumam ser emperradas pelo sistema eleitoral e pelos partidos políticos, a alternativa necessária para a igualdade política é lutar pela paridade.
No domingo (6-J) foram celebradas as maiores eleições da história do México, além do número recorde de eleitores foram mais de 20 mil cargos em disputa: a Câmara dos Deputados, os governos estaduais, congressos estaduais, prefeituras e cargos equivalentes às vereanças locais no Brasil. Essas foram as primeiras eleições após a reforma constitucional de 2019, que aprovou a paridade entre homens e mulheres nos três poderes do estado, em todos os níveis de governo (municipal, estadual e federal), e também nas candidaturas dos partidos políticos, a chamada #ParidadEnTodo.
Além disso, nestas eleições o Instituto Nacional Eleitoral mexicano determinou que os partidos reservassem vagas para pessoas LGBT+, pessoas indígenas, PCD, Afro-mexicanas e imigrantes.
Isso quer dizer que, se até as últimas eleições, os partidos mexicanos já precisavam apresentar listas com 50% de candidatos homens e 50% de candidatas mulheres para os cargos legislativos (segundo a lei que já estava em vigor no país desde 2014), desta vez os partidos também tiveram que apresentar o mesmo número de homens e de mulheres para os cargos do executivo, onde a oferta é única por partido.
Essa medida inédita foi bastante criticada pelos partidos políticos que se sentiram “inviabilizados” e questionaram as reformas constitucionais para a paridade. Com pelo menos 6 novas governadoras eleitas e aguardando uma porcentagem de representação feminina na Câmara de Deputados maior que a de 48% alcançada no Senado nas últimas eleições, o México agora se torna um laboratório: será que a representação feminina vai de fato converter-se na representatividade esperada pela chegada das mulheres nos mais altos cargos do poder público?
O que acontece agora?
Desde as últimas eleições legislativas, quando o México elegeu por primeira vez um Congresso Nacional paritário, diversas medidas com perspectiva de gênero foram adotadas no país: a distribuição de produtos para higiene menstrual gratuitos nas escolas, leis que regulam o trabalho doméstico, novas normativas contra a violência política e o feminicídio e a própria paridade em todas as ordens do Estado. Todavia, o tema do aborto livre em todo o território nacional segue sendo uma realidade distante e as cifras de violência sexual contra mulheres estão entre as maiores do mundo.
Os próximos passos agora devem ser acompanhar se a revolução da instituição da #ParidadEnTodo será suficiente para inserir a agenda de gênero nos sistemas de poder machistas que seguem regendo o país.
Imagem: arquivo ELEITAS
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Seguimos lutando!! Texto excelente! #ParidadEnTodo