
Em 1992, mulheres de vários locais da América Latina se reuniram na República Dominicana para pressionar autoridades internacionais – em especial a Organização das Nações Unidas (ONU) – no combate e enfrentamento às opressões de raça e gênero. Trinta anos depois desse encontro, o dia 25 de julho se tornou um marco para mulheres negras, latino-americanas e caribenhas.
Mas, afinal, porque essa data é importante? Para saber mais sobre a luta das mulheres negras nesse 25 de julho, continue a leitura!
O que tem de diferente na luta das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas?
Esse primeiro encontro realizado em 1992 levantou um ponto muito importante: como o racismo atravessa a vida das mulheres negras, latinas e caribenhas juntamente com o machismo e a misoginia. Tudo isso se faz presente nos números e dados sobre a vida das mulheres amefricanas – termo criado pela antropóloga brasileira Lélia Gonzalez ao estudar gênero e raça no contexto latino-americano e diaspórico.
O relatório da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) aponta que, em 2020, mais de 4 mil mulheres foram vítimas de feminicídio – boa parte desses índices são de países da América Latina e da região do Caribe.
Apesar de ser um número menor que do ano anterior, o relatório mostra que esse índice é muito preocupante. Honduras, República Dominicana e El Salvador são os países com maior índice de feminicídios na região.

Os índices de violência obstétrica na América Latina também mostram que não é justo ignorar a questão racial quando falamos em mulheres negras e latino-americanas. A Organização Mundial de Saúde mostra que a América Latina é o continente campeão em cesáreas – muitas feitas sem necessidade ou contra a vontade da mulher.
São 38,9% de partos cesáreos – o que contraria a recomendação da OMS, que é entre 8% e 15%. O Brasil é o país latino-americano que mais faz cesáreas: 56% da totalidade de partos feitos. É importante dizer que o parto cesáreo é um procedimento que pode salvar a vida da mulher e do bebê. O que chama a atenção das autoridades são os altos índices frutos da chamada cultura cesarista – em que a mulher é induzida a optar pela cesárea sem necessidade ou sofre algum tipo de violência ou coação na hora de parir.
Nos partos normais, a episiotomia é uma das violências mais recorrentes nesses casos. Vale dizer também que boa parte das mulheres vítimas de violência obstétrica na América Latina são negras e indígenas.
As desigualdades salariais que já existiam antes da pandemia de Covid-19 se tornaram ainda maiores durante este período. Dados do Cepal apontam que o percentual de participação de mulheres latino-americanas e caribenhas no mercado de trabalho em 2020 – primeiro ano da pandemia – foi de 46%, enquanto a taxa de participação dos homens foi de 69%. A demanda de cuidados gerada também pela pandemia de Covid-19 nos domicílios forçou muitas mulheres no continente a abandonar suas carreiras profissionais.

Este é um pequeno panorama do contexto em que mulheres amefricanas estão inseridas. Por isso, pensar em ações que reparem os males causados pelo racismo, pelo machismo e pela misoginia.
Apesar do Dia da Mulher negra, latino-americana e caribenha ser algo criado há 30 anos, a luta dessas mulheres antecede essa data. Movimentos de mulheres negras existem há muitas décadas em toda América Latina e Caribe lutando pelo bem estar deste grupo.
Os debates e luta pelos direitos reprodutivos das mulheres amefricanas – que compõe também o índice de vítimas de abortos clandestinos no continente – foi fundamental para que pelo menos 4 países o aborto seja legalizado (Argentina, Uruguai, Guiana e Guiana Francesa) e em 4 seja descriminalizado (Chile e Venezuela). Parece ser a mesma coisa, mas criminalizar e legalizar são coisas distintas e você pode aprofundar neste assunto ao clicar aqui.
Argentina e Venezuela reconhecem a violência obstétrica como crime e incluem o abuso de medicalização e patologização de processos naturais como o parto. Nestes países se reconhece também o impacto negativo na qualidade de vida e a perda da autonomia das mulheres vítimas de violência obstétrica.
No mercado de trabalho, existem políticas de inclusão de mulheres amefricanas em todo o continente, porém a eficácia de tais políticas ainda esbarra em estereótipos de gênero e raça.
Conheça Tereza de Benguela

Em 2014, a ex-presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 12.987 que torna 25 de julho o Dia Nacional de Tereza de Benguela. Não se sabe ao certo o lugar de nascimento de Tereza. Ela viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, líder do Quilombo do Piolho – que ficava na região que atualmente é a fronteira entre o estado do Mato Grosso e da Bolívia. O Quilombo do Piolho foi o maior do Mato Grosso e quando seu esposo foi assassinado pelo Estado, Tereza assumiu a chefia do quilombo – que também é conhecido como o Quilombo do Quariterê.
Esse quilombo abrigou mais de 100 pessoas – negras e indígenas – e Tereza era chamada de Rainha Tereza. Foi ela quem criou as estruturas política, administrativa e econômica do quilombo. Havia troca de armas e os objetos de ferros que eram usados contra os africanos escravizados se tornaram instrumentos de trabalho. Segundo o Anal de Vila Belo de 1770, Tereza governava o quilombo nos moldes típicos de um parlamento.
Não há registros sobre a morte de Tereza de Benguela. Uma das versões para sua morte é que ela tenha se matado ao ser capturada por bandeirantes. A outra é de que ela tenha sido morta e sua cabeça exposta no centro do quilombo. O Quilombo do Quariterê resistiu bravamente até 1770 e era composto por 79 negros e 30 indígenas.
“Minha voz, uso pra dizer o que se cala. O meu país é meu lugar de fala”
Elza Soares
Que a data de hoje sirva para reverenciar e homenagear Terezas, Elzas, Marielles e todas as mulheres amefricanas que lutam em toda a América Latina e Caribe!
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