Ao olhar para a sua cidade, talvez você olhe as estruturas de concreto e metal. Mas, as cidades são muito além do que um território com prédios e pessoas. Elas são também o reflexo da cultura, da sociedade e, principalmente, da política. E é com esse olhar mais amplo que a gente te convida pra seguir na leitura hoje. Vamos pensar sobre a cidade juntes?
Globalizar a luta, globalizar a esperança: a importância da coletividade
Se a cidade é fruto de ações coletivas e reflexo de uma sociedade, não é mais justo que as pessoas se envolvam mais com a gestão desse espaço? “É preciso ter um governo onde a gente possa dialogar, onde os movimentos sociais sejam escutados, onde a população tenha a possibilidade de dialogar e de viver plenamente”, palavras de Mônica Benício, vereadora do Rio de Janeiro que esteve presente na edição argentina do #CiudadesSinMiedo. Esse evento acontece desde 2017 e esse ano, a cidade de Rosário (Argentina) foi a escolhida para sediar esse importante debate.
O diálogo é o primeiro passo para a criação de ações e estratégias para uma gestão mais humana das cidades. Foi conversando com suas companheiras de trabalho que Isabel Cortez começou a pensar em ações para promover melhorias para trabalhadores e trabalhadoras da limpeza urbana de Lima, capital do Peru. “ Perguntei às minhas companheiras: “o que podemos fazer? Onde as leis são feitas? Onde podem nos ouvir? Onde podemos levantar nossa voz e fazer com que as autoridades nos ouçam? Onde fazem as leis que praticamente decidem a sua vida?”.

Foi nas conversas com as trabalhadoras da limpeza urbana e também com sua própria experiência que Isabel notou que era preciso mostrar aos cidadãos e cidadãs que quem trabalha na limpeza das cidades também são pessoas. E isso não é algo restrito aos trabalhadores de Lima. Em todas as cidades da América Latina, trabalhadores da limpeza urbana não são respeitados pois seus trabalhos, muitas vezes, são vistos como irrelevantes. No Brasil, por exemplo, esses trabalhadores ficaram mais expostos ao coronavírus e o percentual de mortes em virtude de Covid-19 foi 6 vezes maior que do resto da população brasileira.
Em sua fala, Isabel deixa claro também que as questões em torno do trabalho de limpeza urbana não são só de classe. As questões de gênero também perpassam o cotidiano de quem trabalha com a limpeza das cidades.” Eu pertencia ao sindicato de trabalhadores de limpeza municipal de Lima (Peru). Foi uma árdua luta para mudar, para dizer basta a tantos abusos e atropelos aos trabalhadores da limpeza municipal e principalmente, minhas companheiras com quem trabalhava 70% eram mulheres. Estamos fartas que a prefeitura contrate chefes que abusam, que não respeitam os direitos das trabalhadoras, servidores que ganham pelo serviço e que não respeitam a sua saúde”.

Pensar as cidades, pensar onde os pés pisam é olhar para esse território e buscar soluções de forma coletiva. Muitas vezes, a estrutura burocrática torna o processo lento, moroso e às vezes, ineficaz. “Estamos cansados de esperar as decisões que vêm de cima. Estamos cansados de esperar as decisões que vêm de Buenos Aires”, é o que compartilhou Caren Tepp – que é vereadora da cidade de Rosário. Para ela, a construção de um poder popular tem muito a contribuir com a gestão das cidades e tornar esses territórios mais humanos e saudáveis para todas as pessoas. “Os governos locais e municipais podem ser uma forma, um caminho para a construção do poder popular”.
Poder popular e uma nova perspectiva política
Afinal, o que é esse poder popular? “O poder popular foi um projeto que nasceu de comunidades e territórios organizados”, explica Caren Tepp. Para ela, essa organização popular para cuidar dos territórios e das comunidades é fundamental para descentralizar poderes e construir novas formas de governar. A distribuição de poder é um dos grandes desafios na América Latina em seu futuro. Precisamos poder governar com uma perspectiva diferente, que não ponha na agenda política só os temas do campo nacional e popular mas que tenham a audácia de construir com todos e todas’.
Para que o poder popular se torne uma realidade é preciso que toda a sociedade se envolva com as pautas sociais e políticas da cidade. Se envolver com essas pautas é ter a audácia de construir uma nova forma de governar, de cuidar das pessoas e cuidar de si também.
“Ter uma praça repleta de pessoas interessadas em discutir um novo projeto político é também um ato de coragem e por si só, um ato de esperança”, disse Mônica Benício. Que as praças de todas as cidades da América Latina estejam cheias de pessoas audaciosas e prontas para pensar onde os pés pisam!
E você, o que pensa sobre esse assunto? Como é a gestão da sua cidade e o seu envolvimento neste processo? Deixe aqui o seu comentário! Que tal fortalecer essa ideia? Basta compartilhar este post em suas redes sociais.