Você já ouviu falar em Economia do Cuidado? Ela é composta por inúmeras atividades ligadas à saúde, educação, alimentação, serviços domésticos e também pessoais, assistência social e similares. Essas atividades são exercidas por pessoas no mundo inteiro e são de extrema importância pois muitas delas estão relacionadas a necessidades e direitos básicos.
E apesar da sua importância, a Economia do Cuidado é composta por atividades invisibilizadas ou desvalorizadas e um dos principais motivos para isso está no fato de que boa parte delas são exercidas por mulheres – sobretudo, mulheres negras, pobres e com baixa escolaridade. Para saber mais sobre este tema e como virar esse jogo, continue a leitura!
Afinal, o que leva a economia do cuidado ser tão negligenciada?
Esta é uma pergunta que traz muitas respostas. A negligência tem um viés machista e bastante opressor. A começar que atividades de cuidado tem uma forte ligação com as ideias construídas socialmente em torno dos papéis sociais de gênero – que colocam as mulheres em posições de cuidar do outro de maneira naturalizada. Sabe aquela ideia de que todas as mulheres “naturalmente” sabem cuidar de alguém ou de algo? Pois bem, vem daí. É válido dizer que as mulheres negras foram colocadas na linha de frente do cuidado em virtude da escravidão e de outras opressões ligadas ao racismo. E o que isso tem a ver com a Economia do Cuidado? Muita coisa!
Dados da pesquisa feita pela Think Olga mostram que 93% das pessoas que trabalham como empregadas domésticas em toda a América Latina são mulheres. No mundo, são 7 milhões de mulheres trabalhadoras domésticas e destrinchar esses números revelam que muitas delas exercem suas atividades profissionais de maneira precária, sem direitos trabalhistas garantidos ou até mesmo em condições insalubres.
A pesquisa mostra também que as atividades de cuidado não remuneradas – como a amamentação – demandam tempo e rende financeiramente. Para se ter uma ideia, o trabalho de cuidados não pagos de mulheres da região é equivalente a 10,8 trilhões de dólares. Nada desse valor chega a essas mulheres que executam essas atividades. Esse valor é o equivalente ao PIB de alguns países e só não supera o PIB da China, Estados Unidos, União Européia e Índia.
Outro dado alarmante é sobre as horas dedicadas por mulheres nessas atividades. Enquanto as mulheres gastam em média 4 horas e meia por dia em atividades remuneradas, os homens gastam quase 8 horas por dia nessas mesmas atividades. Já em atividades não remuneradas, as mulheres gastam mais de 5 horas por dia, já os homens gastam pouco mais de duas horas. Isso reverbera na autonomia financeira de muitas mulheres no mundo todo, que em virtude disso se tornam vulneráveis em suas relações afetivas.
A pandemia de Covid-19 impactou todas as áreas profissionais e as atividades de cuidado não passaram ilesas a ela. O relatório da Think Olga aponta que 58% das mulheres que ficaram desempregadas durante a pandemia são negras. Além disso, a sobrecarga para mulheres que se tornam mães também desperta preocupação pois a pandemia intensificou esse quadro. Neste caso, 7 em cada 10 mulheres alegam que a carga de cuidados domésticos aumentou e que isso trouxe consequências para os seus negócios.
O direito ao cuidado para quem cuida: direitos e justiça
Combater a precarização e a invisibilização das mulheres que estão envolvidas em atividades de cuidado é fundamental para impedir a perpetuação de injustiças e desigualdades sociais.
A criação de políticas voltadas para o cuidado é a saída encontrada para combater essas injustiças e dar a essas trabalhadoras melhores condições de vida. A Assembleia Constituinte do Chile tem mostrado ao mundo que é possível e necessário reconhecer a importância das atividades de cuidado para a economia chilena. No texto da nova constituinte diz “constituem uma atividade econômica que contribui para as contas nacionais e deve ser considerada na formulação e execução de políticas públicas”.
A Constituinte chilena é a primeira no mundo composta por homens e mulheres de maneira paritária.
Reconhecer a importância dessas atividades é muito mais que parabenizar essas trabalhadoras pelo que elas fazem, é lutar para que elas tenham seus direitos reconhecidos, garantidos e que tenham condições de viver com dignidade e justiça. Assim como no Chile, é urgente que essas atividades façam parte das políticas públicas em todos os lugares do mundo – especialmente no Brasil, que só em 2015 sancionou a Lei Complementar nº 150 conhecida PEC das domésticas. Assim, as trabalhadoras domésticas brasileiras passaram a ter direitos trabalhistas como férias e FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Recentemente, o podcast “A Mulher da Casa Abandonada” promoveu várias discussões e reflexões sobre a precarização do trabalho doméstico. Clique aqui para saber mais sobre esse caso.
Nuestras Cartas e Lab Cuidado e Política
Para acompanhar o trabalho das mulheres eleitas para a Assembleia Constituinte do Chile, bem como investigar os resultados de inovação política oriundos desse processo, o Instituto Update em parceria com a FES Chile desenvolveu o projeto Nuestras Cartas. Confira o trailer:
E a Think Olga em parceria com o Instituto Update por meio do projeto Nuestras Cartas, criou o laboratório Cuidado e Política, que traz conteúdos para que, juntes, a gente possa repensar nossa forma de lidar com as atividades de cuidado e pensar numa economia do cuidado mais respeitosa, justa e mais digna para todas as trabalhadoras. Todo o conteúdo está disponível nas nossas redes sociais e nos canais de Think Olga.
E você, o que pensa sobre as atividades de cuidado? Como seriam as políticas institucionais de cuidados no nosso país? Tem acompanhado a Constituinte no Chile? Deixe aqui nos comentários a sua opinião sobre o assunto.
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