Redução de danos: sinônimo de acolhimento e respeito

Grandes festas populares como o Carnaval trazem à tona a urgência em discutir e ampliar a prática de redução de danos. Você sabe o que é? Continue a leitura e vamos juntes entender melhor a importância desta prática.

Uma das festividades mais esperadas pelo povo brasileiro é o Carnaval. Além de ser um período de grande exaltação da cultura popular, esta é uma festa que simboliza a liberdade, a alegria e descontração que toma conta das ruas de todo o Brasil. Nesse período também é comum o consumo de bebidas alcoólicas e demais substâncias que podem afetar a folia. E é nessa hora que entra a Redução de Danos para promover um maior bem estar a todas as pessoas envolvidas. Mas, afinal de contas: o que é isso?

Antes de mais nada, é importante destacar que a Redução de Danos não se trata de apologia e sim, uma abordagem de cuidado aliada a um fato concreto: as pessoas usam substâncias entorpecentes. Não fechar os olhos para este fato é um dos princípios para fazer da Redução de Danos uma prática eficiente de cuidado e segurança. Em virtude da falta de políticas públicas direcionadas para esta questão, a Redução de Danos se torna uma aliada na promoção do debate e conscientização sobre uso recreativo de substâncias entorpecentes. 

Créditos: Arnaldo Carvalho / Acervo JC Imagem

Vale aqui dizer que há uma diferença entre uso recreativo de substâncias e a dependência. Pessoas em situação de dependência química consomem substâncias entorpecentes sem motivações delimitadas. No caso do uso recreativo, o consumo das substâncias ocorre em momentos de lazer e descontração. Ou seja, a pessoa escolhe conscientemente fazer uso das substâncias. E é partindo desse pressuposto que a Redução de Danos atua: promover o uso responsável e seguro para quem opta em consumir e usar entorpecentes de forma recreativa. 

Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e também pelo Ministério da Saúde através da Portaria nº 1.208 de 01 de julho de 2005, a Redução de Danos promove informações de cuidado e alerta sobre os efeitos de cada substância no corpo de quem as consome. Isso possibilita um consumo consciente, autônomo e responsável destas substâncias. Além disso, a Redução de Danos também reduz os impactos negativos tanto para quem consome como para as pessoas ao redor. 

Redução de Danos também é acolhimento e segurança

Num contexto festivo e intenso como o Carnaval é muito comum que os foliões cheguem ao limite físico, mas é importante frisar que apesar que  a Redução de Danos é válida durante todo o ano! Organizações como a RENFA – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas – e a Escola Livre de Redução de Danos defendem a prática pois acreditam que o debate sobre uso de drogas precisa acontecer no campo da saúde pública e dos direitos humanos. No Brasil, esse debate perpassa pela segurança pública e, consequentemente, traz problemas sérios para a sociedade. 

“O verniz é moralista, mas a motivação é de base racista e elitista. A gente já sabe que a “guerra às drogas”, na verdade, é uma ofensiva a determinados grupos e territórios. E a sociedade que resiste a falar sobre drogas é a mesma que estimula e glamouriza o consumo excessivo de álcool, a substância psicoativa mais usada entre as pessoas”.

Escola Livre de Redução de Danos

Dados do Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional (SISDEPEN) mostram que a chamada “guerra às drogas” tem obtido resultados preocupantes. Desde a sanção da Lei nº 11.343/2006 – conhecida como a Lei de Drogas – o Brasil alcançou o terceiro lugar no ranking de países com maior população carcerária do planeta. O número de pessoas presas enquadradas por tráfico desde essa sanção aumentou 339%. Cerca de 66% desta população é composta por homens negros e pardos com idade entre 18 e 24 anos. 

Em artigo publicado no IPEA, os ativistas Raull Santiago, Luna Arouca e Ana Clara Teles, trazem dados alarmantes sobre o impacto da guerra às drogas nas periferias brasileiras:

“A guerra às drogas afeta diretamente o cotidiano das favelas e das periferias. Em nome do “combate às drogas”, os governos justificam uma série de violações de direitos contra seus moradores e, especialmente, contra sua juventude. Mas, em meio a um cenário de desigualdades, racismo e violência, as favelas e as periferias seguem inovando e sobrevivendo com muita criatividade e inteligência. Todos os dias, novas ferramentas são criadas e novas soluções são pensadas para dar conta de um contexto de ausência de políticas públicas e de presença ostensiva do braço violento do Estado”. 

Com o avanço da agenda conservadora no Brasil que está em curso desde 2019, foi sancionada uma nova Política Nacional sobre Drogas e que também tem contribuído com o fortalecimento desse combate às drogas pelo viés da segurança pública.

Estados como Pernambuco e Bahia têm sido atuantes na promoção da redução de danos. Com o programa Atitude, os órgãos ligados a Secretaria de Prevenção a Violência e às Drogas tem acolhido pessoas em situação de rua nas cidades pernambucanas e promovido ações que conscientizem sobre o uso de substâncias entorpecentes. Na Bahia, a Secretaria de Educação oferece cursos de redução de danos para a população e também para os servidores do órgão – uma boa estratégia para informar a população sobre este tema.     

Algumas ações que podem contribuir com a redução de danos

Diante de tudo que foi dito até aqui, agora é hora de pegar algumas dicas que te darão segurança para curtir o Carnaval do jeito que você achar melhor para você! Se liga nas dicas para reduzir os danos das substâncias na folia:

1 – Tenha certeza de que você está bem consigo 

O uso recreativo está ligado à diversão, lazer e alegria. Usar entorpecentes em situações de tristeza ou atreladas a problemas de natureza pessoal pode não ser a melhor escolha. Certifique-se de suas próprias emoções antes de qualquer coisa. 

2 – Esteja com pessoas confiáveis na folia

Nada melhor que curtir os blocos de Carnaval com pessoas queridas e que podem te ajudar caso seja necessária alguma ajuda. Por isso, ande com a sua galera de confiança.  

3 – Não aceite nada de estranhos

Você já deve ter ouvido isso de alguém mais velho da sua família e esse conselho é pra ser seguido para o resto da vida, você não sabe a procedência do que lhe foi oferecido. 

4 – Saco vazio não aproveita a folia. Alimente-se!

A alimentação ajuda na manutenção da lucidez e caso seja preciso acionar algum tipo de ajuda, estar com o “buchim cheio” vai te ajudar na recuperação. Frutas como melancia, banana e laranja são escolhas acertadas. Alimente-se bem! 

5 – Bebeu água? Não? Então, beba água!

Tenha sempre uma garrafa de água por perto e mantenha a hidratação durante a folia pois a água ajuda na redução dos efeitos da temida ressaca. 

6 – Faça um levantamento dos serviços de saúde próximos ao bloco

Vai para o bloco de Carnaval ou para uma festa da sua cidade? Atente-se para os serviços de saúde que estarão disponíveis na região. Veja se haverá atendimento dos Bombeiros ou se há algum posto de saúde próximo caso seja preciso acionar algum tipo de ajuda médica. 

Conheça a RENFA

Criada para atuar em rede na luta pelos direitos humanos e no fortalecimento político das mulheres e pessoas trans, a Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (RENFA) é uma organização política feminista, antirracista, suprapartidária e anticapitalista. Atualmente, a Renfa está organizada coletivamente em 12 estados brasileiros e tem o antiproibicionismo como principal missão. 

E você, o que pensa sobre este assunto? Deixe aqui o seu comentário! Que tal fortalecer essa ideia? É simples: basta compartilhar este conteúdo em suas redes sociais. 

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