Shakiras, Mileys e as mulheres que não podem ser elas mesmas

Abrir mão da carreira pelo bem da família ou da carreira de quem se ama. Apoio incondicional. Quando vem o sofrimento ou a tristeza, tudo isso é deixado em segundo plano. Afinal, o foco é a felicidade do companheiro. A exposição da cantora Shakira sobre o término de sua relação com o jogador Gerard Piqué mostra que ela não é a única a viver esse roteiro imposto a muitas mulheres no mundo. E quem é o autor deste roteiro? Vamos conversar sobre? 

O patriarcado e as histórias em que mulheres nunca são protagonistas

Antes de falar sobre esse “roteiro”, a gente precisa falar sobre o roteirista. O que é o patriarcado, afinal? Ele nada mais é que um sistema social pautado por relações estruturais que favorecem, em especial, homens brancos cisgêneros e heterossexuais. Na prática, isso resulta em relações sociais de poder dos homens sobre as mulheres. Essa estrutura cresceu e se fortaleceu ao longo da história da Humanidade e as transformações desse sistema partem dos grupos que não destoam dos privilégios que o patriarcado oferece: mulheres, pessoas negras e LGBTQIAPN+

É com base nesse conceito que ao longo da história, as mulheres foram educadas e ensinadas a fazer sacrifícios em nome da família, por exemplo. Ou que para ser amada e valorizada, era necessário adotar uma personalidade introspectiva e submissa ao homem. Ou seja, o papel de protagonista nas histórias pautadas pelo patriarcado será sempre dos homens cis, brancos e heterossexuais. Miley Cyrus, por exemplo, lutava há anos para mudar sua imagem – construída ao longo do tempo em que foi Hannah Montana. Seu marido a criticava por usar esmaltes chamativos e ter um comportamento mais espontâneo e extrovertido. 

O protagonismo desses homens se reflete em tudo: na política, na relação com os filhos, no exercício de direitos e no cumprimento de deveres. Enquanto isso, às mulheres restam o silenciamento, a sobrecarga,o desamparo e a injustiça. 

Esse roteiro precisa (e será!) alterado

Buscar formas de criar ambientes mais acolhedores para mulheres, mais equitativos, ampliar políticas públicas ligadas a questões de gênero e raça são fundamentais para mudar essa situação. Nos últimos tempos, as discussões sobre políticas de cuidado, por exemplo, mostram o quão urgente é essa questão. A pesquisa da Think Olga mostra que na América Latina cerca de 93% das pessoas que trabalham como empregadas domésticas são mulheres – muitas, sem direitos trabalhistas garantidos e em condições de trabalho totalmente insalubres. Essa mesma pesquisa mostra também que em atividades não remuneradas ligadas ao cuidado (seja dos filhos ou da casa), os homens gastam cerca de 2 horas diárias, enquanto as mulheres gastam mais de 5 horas por dia. 

Para baixar a pesquisa completa, clique aqui

Como uma mulher trabalhando nessas condições poderá se dedicar a outras atividades? Como essa mulher vai atuar no cenário político? 
A renúncia de Jacinda Ardern (Nova Zelândia) é um dos muitos casos de mulheres que abrem mão de seus cargos em virtude da exaustão, da sobrecarga e da hostilidade no ambiente político. Na pesquisa feita pela Deloitte Women at Work 2022, há uma descoberta preocupante: entre as entrevistadas (5 mil mulheres que vivem em 10 países diferentes), cerca de 53% afirmaram que o nível de estresse atual é maior do que no ano anterior. Para quase todas as entrevistadas, a saúde mental está ruim ou muito ruim.

Nossa pesquisa +Representatividade mostra também que no Brasil há uma discrepância entre homens e mulheres que se elegem ou que buscam a reeleição. Exemplo disso é que nas eleições de 2018, 89% dos deputados federais se candidataram à reeleição. Já entre as deputadas federais, o percentual de candidaturas à reeleição nesse período foi de 82%. Enquanto 64% dos deputados federais foram reeleitos, cerca de 52% das deputadas federais foram reeleitas no mesmo período. A jornada de uma mulher na política é cheia de percalços – que incluem sobrecarga e violências políticas. 

A vida das mulheres que não estão em cargos políticos também tem seus percalços e suas desigualdades. O IBGE aponta que a participação de mulheres com idade entre 25 e 49 no mercado de trabalho fica abaixo de 60% quando estas são mães de crianças menores de 3 anos de idade. Muitas se veem obrigadas a interromper suas carreiras profissionais para se dedicar exclusivamente aos filhos – o que mostra que há um desequilíbrio no exercício do cuidado dessas crianças bem como faltam ações para ampliar o acesso a creches. Comparando com os homens dessa mesma faixa etária, o cenário é bem diferente: cerca de 89% dos homens com crianças menores de 3 anos estão no mercado de trabalho. 

Pesquisa da FGV mostra que mulheres com idade entre 25 e 35 anos são demitidas de seus trabalhos após 2 anos da licença-maternidade. Entre as 247 mil mulheres entrevistadas, cerca de 50% foram demitidas. Muitas também relataram que foram hostilizadas durante a gestação por colegas de trabalho ou que escondem aos entrevistadores que são mães para não correrem riscos de perder a vaga de trabalho. 

Mais que canções, desabafos uníssonos de mulheres no mundo todo

Hoje, Shakira e Miley Cyrus cantam sobre seus relacionamentos abusivos e tóxicos. Elas não são as primeiras a fazer da arte uma forma de expressar o que sentem e contar suas histórias. Jacinda também não foi a primeira mulher a renunciar em virtude do cansaço e da exaustão. A repercussão desses casos mostra que temos um caminho a percorrer na promoção da política do cuidado e na equidade de gênero. 

As desigualdades de gênero impostas por esse sistema patriarcal afetam mulheres em todo o mundo. Mudar esse roteiro de vida imposto pelo patriarcado requer um esforço coletivo em todas as esferas da sociedade. Não precisamos de mulheres sobrecarregadas, injustiçadas e tratadas como coadjuvantes. Precisamos de mulheres bem cuidadas, acolhidas e em relações saudáveis – seja com seus parceiros afetivos, ambiente de trabalho ou em qualquer outro lugar que elas estejam. 

Precisamos de mulheres felizes! 

E você, o que pensa sobre isso? Deixe aqui o seu comentário e a sua opinião! Que tal começar a mudança nesse roteiro? Compartilhe esse conteúdo nas suas redes sociais e fortaleça essa ideia junto com a gente!

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