QUEM SÃO, DE ONDE VEM E DESAFIOS DA JORNADA

Como é ser uma jovem na política? Desafiador, mas também fantástico!

Rannya Freitas, 19 anos
vereadora eleita em Sanharó (PE)

Ser jovem na política é um processo de aprendizagem ativo, tanto para a pessoa que está no centro dessa construção, como também para a sociedade que é impactada pela presença desse corpo político que traz consigo a tarefa de pavimentar e criar caminhos para as próximas e futuras gerações, questionando o status quo com uma teimosia criativa e posicionamento a favor da pluralidade. 

O Legislativo e Executivo são pautas urgente de ocupação! São nestes espaços de poder onde os direitos são e devem ser construídos e garantidos. A elaboração a partir da vivência plural dessas juventudes, apresentando novas concepções culturais, sociais e políticas, fazem uma provocação à sociedade quanto aos desafios do presente diante dos caminhos para o futuro. 

Esses jovens querem produzir, legislar, mas também experimentar, hackear e questionar os espaços de poder para promover a atualização necessária, levando em consideração as demandas da sociedade.  É importante dizer que não “inventam a roda”, e sim buscam opções pouco usuais, com coragem. 

Suas práticas são transversais, intergeracionais, conectadas social e tecnologicamente, ressignificando a política como ferramenta de transformação e reconfigurando o tecido social, gerando maior participação e construção de políticas públicas baseadas nas diferentes realidades. Com isso, conseguem fazer uma escuta social mais atenta, utilizando a diversidade como metodologia de mudança.

Os jovens inovadores na política são orientados  pela visão do bem comum, da coletividade e do desenvolvimento a longo prazo; criam novas realidades para melhorar a condição de vida dos cidadãos e das cidadãs, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais tão marcantes em nosso país. A meta é amadurecer a democracia no Brasil e na região, resgatar a confiança na política e nas instituições a partir de práticas e comportamentos inovadores que reconfiguram a forma como é feita a política. Esse jovem que tá ali, vai trazer sua experiência como bagagem para parte de sua jornada de aprendizado na política. Ao aprender, ele consegue compartilhar com outras pessoas.

Em nossas entrevistas e grupos focais realizados ao longo da pesquisa, identificamos comportamentos que as juventudes brasileiras que estão envolvidas na transformação da cultura política trazem para o centro de suas atuações:

Maior flexibilidade e disposição de mudar de opinião.

Urgência em solucionar problemas que os afetam, mas também que afetam a sociedade como um todo.

Vontade genuína de construir um país melhor e seguir um ideal de mundo.

Oxigenam o sistema e as práticas políticas, estabelecendo contrapontos aos mais experientes.

Hackeiam o sistema partidário e ampliam os espaços de participação com movimentos e coletivos, além da ocupação intensa das redes sociais.

Aproximam a política do dia-a-dia e desmistificam a figura do político tradicional, mostrando que política é ferramenta de transformação.

Com a sua presença, inspiram outros jovens e pessoas, mais velhas e mais novas, a participar de forma mais ativa na política, gerando um diálogo entre gerações importante e necessário para a política.

Veem a política como campo de possibilidades, afetos, encontros importantes consigo, com o outro e com a sociedade.

Trazem o lúdico para o centro da ação, fomentando a educação política e a participação social.

Em nossa jornada de pesquisa, fomos atrás de jovens lideranças inovadoras, que estão protagonizando transformações na forma de fazer e pensar a política institucional e eleitoral, em campanhas e mandatos.

Queremos te apresentar quem são esses jovens, o que pensam, como chegaram até aqui e como estão construindo a política do futuro a partir de ações de inovação política no agora.

Navegando pelo mapa abaixo, você pode conhecer cada uma das pessoas clicando no ícone ou abrindo em uma nova aba. Dar visibilidade a este rede de jovens lideranças na política é uma das formas que encontramos para revelar a imaginação política a partir da experiência transformadora e democrática que jovens de diferentes partidos estão protagonizando em suas cidades e territórios. Aproveite para acompanhar suas atuações!

DE ONDE VEM ESSA VONTADE DE USAR A POLÍTICA COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO?

 A formação política desses jovens vem de diferentes construções que ampliam seus repertórios e possibilitam, através da pluralidade de vivências,  a criação de novas estratégias e ferramentas para o jogo político.

Eu costumo dizer que os indígenas hoje no Brasil não vive dentro das suas comunidades, dentro das suas terras indígenas. Ele sobrevive. É uma questão muito diferente. Então assim, dizer para vocês que quando eu comecei a notar o que é em si a política, eu tinha em torno de 17 para 18 anos, e eu já estava engajado no movimento social de federação e foi quando eu comecei a perceber que há certas coisas que têm por onde fazer, que tem por onde ajudar os povos indígenas dentro da política em si.

Jonh Kanynary,
candidato à vereador em Lábrea (AM)

Essa oportunidade que a gente teve foi motivação de ver o sofrimento das comunidades, em acompanhar de perto e conhecer um pouco da história e realidade das comunidades; isso é o que nos motiva a tentar. A gente sabe da grande dificuldade que é o poder econômico o qual a gente não tem para disputar, para concorrer, para fazer toda a logística que a gente gostaria de fazer. Mas o que mais motivou a gente foi ver os jovens seguindo para o mundo das drogas por não terem oportunidade. Então, isso motiva muito a gente a tentar, mas, infelizmente, a política institucional esbarra em quem tem poder aquisitivo e consegue se eleger. É uma das dificuldades... Com a nossa candidatura, tentamos levar oportunidade para os jovens, de poder defender realmente aqueles que mais precisam, e ter um representante quilombola, um jovem... Foi isso que me motivou para que a gente pudesse tentar.

Hugo Lério,
candidato a vereador em Oriximiná (PA).

Nesta pesquisa, também conseguimos identificar os contextos que despertam os jovens para mobilizar-se politicamente, principalmente na ocupação do poder. Por transitarem por diferentes espaços, movimentos, áreas de atuação e contextos, as juventudes na política conectam diferentes agendas e estratégias que potencializam a participação social e política. Ter conhecimento desses contextos é importante para compreender que cada vez mais os jovens estão querendo participar e ocupar a política em suas diferentes formas de atuação.

Movimentos estudantis: projetos escolares, grêmios, política universitária de cotas e acesso à universidade.

Movimentos de renovação política e de apoio eleitoral.

Movimentos e coletivos ligados a  causas específicas como territórios e cultura.

Think tanks (instituições que desempenham um papel de incidência para políticas públicas).

Juventudes partidárias.

Funções públicas e  de assessoria legislativa.

Ações de voluntariado.

Professores ou familiares engajados na política.

Esses contextos diversos nos mostram que existe um grupo extremamente politizado e que vê, nesse ecossistema de atuação política, possibilidades de engajamento cívico.  Pontos bem relevantes são a ocupação e circulação na cidade por jovens no início do século XXI e o quanto a questão identitária foi importante para estimular a sua participação social e política. O acesso dessa geração a diferentes territórios, políticas públicas, ao ensino superior e ao consumo fez com que pudessem conhecer novas e outras realidades, abrindo espaço para sonhar-se com diferentes possibilidades de atuação. 

Nós temos mostrado que somos jovens, e que esse é o nosso diferencial. Não é o nosso problema, é a nossa solução sermos jovens, porque nós conseguimos pensar maneiras diferentes de solucionar os problemas da cidade.

Wesley Monea, 23 anos,
vereador eleito em Araçatuba (SP)

Fatos e momentos recentes na política brasileira também impactaram um maior engajamento na política e despertaram muitos jovens para a ocupação do poder: 

Manifestações
de 2013

Ocupações das escolas de 2015-2016

Impeachment presidencial de 2016

Eleições 2018 

Pandemia do Covid-19 

Articulação com manifestações internacionais como Vidas Negras Importam (Black Lives Matter) e Greve Geral pelo Clima (Friday For Future)

A participação nas redes e nas ruas, além das urgências do presente somadas ao empoderamento político e popular das juventudes, através de coletivos, movimentos suprapartidários, movimentos sociais e estudantis, desperta uma nova visão: a necessidade de ocupar legislativo e executivo para criar pontes entre as causas sociais e a construção de políticas públicas que possam impactar a sociedade, a longo prazo, de forma positiva e responsável.  

São nos espaços de poder e de tomada de decisões que os direitos são construídos e garantidos. A elaboração de políticas públicas, através da atuação de jovens inovadores na política apresenta novas concepções culturais, sociais e políticas, fazendo provocações importantes quanto aos desafios do presente diante dos caminhos para o futuro.

Mas, esse caminho também é bastante desafiador e não podemos e nem queremos romantizar a jornada dessa galera. Estamos aqui para mostrar que é preciso garantir o cuidado e a segurança de pessoas jovens na política para que mais gente possa participar e se sentir convidada na contribuição de futuros possíveis.

OS DESAFIOS SÃO MUITOS E TRANSVERSAIS

Muitos jovens comentaram sobre a falta de legitimidade e crédito que sentem  na hora de fazer política. “Você não é muito jovem para se candidatar, não? Olha só, brincando de fazer política. Você não tem experiência para isso, meu jovem.” Essas foram algumas das frases que eles e elas escutam. E isso vem de pessoas comuns, mas também de pessoas com grande visibilidade. Não sei se você sabe, mas o atual presidente do Brasil proferiu essa frase abaixo em relação ao posicionamento da ativista ambiental Greta Thunberg, de 16 anos, que chama a atenção do mundo inteiro por suas ações de mobilização e engajamento da sociedade global, mas principalmente dos jovens, em relação à emergência climática:

A Greta já falou que os índios morreram porque estavam defendendo a Amazônia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí, pirralha

Jair Bolsonaro

Dá para sentir que não foi uma fala amigável, não é? Isso demonstra muito um dos principais desafios das juventudes na política: a descredibilidade e deslegitimidade que recebem durante a  participação política institucional e eleitoral.  O jovem no Brasil nunca é levado a sério, diziam Charlie Brown Junior e Negra Li na canção “Não é sério” (1997). Passados 21 anos, essa realidade persiste. Infelizmente, a sociedade ainda associa ser jovem à incapacidade de tomar decisões complexas e difíceis. Vê o jovem como um problema, colocando-o em caixinhas que generalizam, ora dizendo que os jovens vão nos salvar de todos os males, ora que não se importam com nada.  Essa descredibilidade aumenta quando colocamos as lentes de cor/raça e gênero e vemos as violências políticas implícitas por parte da sociedade. 

No ano de 2020, de 58.011 posições para vereadores e vereadoras, tivemos 4.097 jovens eleitos, equivalente a 7% do total. Tanto na vereança quanto na prefeitura, a idade é um fator determinante para a quantidade de votos recebidos.*

 *Análise de dados a partir das bases públicas do Tribunal Superior Eleitoral

O desafio que eu vejo, tem um desafio de credibilidade e legitimidade, as pessoas não enxergam muita legitimidade nas propostas de pessoas jovens (...). Honestamente, sendo um jovem negro, eu sentia que era diferente a forma como as pessoas olhavam para mim e olhavam para jovens brancos, em um lugar como se eu tivesse menos potencial.

Samuel Emílio, 26 anos,
candidato a vereador em São Paulo (SP)

A Rannya, vereadora mais jovem do estado de Pernambuco, com 19 anos, passou por uma situação em sua pré-campanha que foi bem emblemática e definidora. Candidatos de oposição começaram a se referir à ela como a “menininha” com um tom pejorativo e com aquela ideia de inferioridade. Dá pra ver que junta a deslegitimidade da sua idade e também por conta do seu gênero, até porque, não vemos esse tipo de ataque aos “menininhos”. Só que ela foi além: pegou um comentário que queria desvalorizar seu gênero e seu trabalho, e transformou positivamente sua campanha e ainda inspirou outras menininhas a participarem e se verem na política institucional. Olha só a sacação da “menininha” e sua equipe: 

Um dos candidatos da oposição no início da campanha, sempre se referia a mim como a “menininha”, como a “menininha” que está se achando, “menininha” ali, como um termo pejorativo, notificando o preconceito por ser menina, mas se referindo a mim com um tom de superioridade. E, neste momento, nós transformamos "essa menina” num slogan de campanha. Então, em todos os jingles, quando nós íamos fazer os posts, os materiais, nós sempre colocamos a menina Rannya Freitas, e isso pegou. Todas as pessoas falavam que “menina” já lembravam de mim, todas já diziam assim: ‘eu estou com a menina’. Isso foi muito bacana porque a gente conseguiu transformar um comentário que veio para me desvalorizar, e que no final acabou contribuindo para que as pessoas tivessem vontade mesmo de votar em mim. E aí eu digo assim, principalmente jovens meninas, e que estavam acompanhando tudo isso, e que enfim, o feitiço virou contra o feiticeiro.

Sendo assim, concepções extremadas levam a preconceitos que nos afastam de futuros colaborativos e intergeracionais, algo de grandioso valor para se enfrentar os desafios complexos da atualidade. Uma sociedade saudável reconhece o protagonismo juvenil e seu poder de intervenção social, garantindo a sua participação política (como já institui o Estatuto das Juventudes) e aprendendo com as diferentes vivências, sejam elas de idade ou de geração. 

O machismo e o racismo não tem idade

O machismo é muito suprapartidário

26 anos, mulher, eleita, branca

Em outros estudos do Instituto Update, já mencionamos o quanto a violência política é um desafio real para grupos historicamente marginalizados. Mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+ sofrem desde violências verbais até ameaças de vida, diariamente. Quando ocupam os espaços de poder, isso aumenta, impedindo a atuação plena dessas pessoas ELEITAS. Nesta parte do estudo, optamos por deixar as verbalizações anônimas para garantir a segurança das pessoas que compartilharam casos de violências. 

Além das histórias, os votos revelam uma desigualdade de gênero, com maior expressão direcionada às mulheres jovens que concorrem ao executivo. No ano de 2020, 115 jovens, entre 21 a 29 anos, foram eleitos para o executivo, comandando 2,11% dos municípios brasileiros. Destes, apenas 12 têm mulheres jovens na prefeitura. De acordo com a análise dos dados da base do TSE, homens jovens recebem mais votos do que mulheres para a prefeitura. Na faixa dos 21 a 24 anos, os homens recebem 9,5 vezes mais votos do que as mulheres e, na faixa dos 25 a 29 anos, esse valor é de sete vezes. Temos que mudar esse cenário!

 Jovens vereadoras relataram como a prática da violência política desafia e impacta negativamente a permanência delas no poder:violências verbais, ameaças, criação de fakenews e outros mecanismos que o machismo e o racismo usam para desvalorização do sujeito.

As pessoas olham, veem uma parlamentar jovem, mulher, acham que não está aqui fazendo sério as coisas, acham que é café com leite.

26 anos, mulher cis, eleita, negra

É muito desafiador estar aqui dentro, manter um perfil que eu sei que é meu, mas perceber que as pessoas me olham e cobram de mim uma coisa que querem que eu seja, uma coisa diferente. Então, se você fala manso, você é frágil, se você fala um pouco mais forte, talvez você seja já muito agressiva. É um processo diário de muita resiliência.

22 anos, mulher cis, eleita, negra

Esse tipo de coisa torna as relações mais tóxicas e podemos avaliar como uma ameaça indireta. Dentre outras coisas bizarras que eu vivi, de entrevistar um assessor do braço direito do Bolsonaro, e ouvir coisas dele como “passa o endereço que eu vou aí te estuprar”. Isso já vem da minha experiência como jornalista política.

24 anos, mulher cis, eleita, branca

Fake News o tempo inteiro e [violência] física também, né. A gente, com relação às violências físicas, fomos pelos meios legais da polícia e etc. Com relação a Fake News, algumas era tão bobas e idiotas que a gente só ria. Outras,que eram mais graves, a gente ia desmentindo em nossas redes também, e fomos arquivando para pensar judicialmente, depois, se havia alguma coisa que pudesse ser feita. Ainda estamos nesse processo porque as ameaças de morte, as humilhações e xingamentos transfóbicos, racistas tomaram a frente de qualquer mentira e de qualquer Fake News que pudesse ter ocorrido no tempo da campanha.

29 anos, mulher trans, eleita, negra

Jovens negros e indígenas, eleitos ou em processo de campanha, sofrem ameaças, principalmente nas redes sociais, mas alguns também relataram violências físicas. Ou seja, o princípio básico da existência e da vida é constantemente ameaçado, alterando os comportamentos dos jovens e a sua ação política. 

Porque é assim, a política ambiental, isso vocês acompanham,com certeza, ambientalista aí, sabe, sendo tirada a vida por proteger, entendeu? Sofrendo ataques só por estar defendendo. Então, assim, eu estava muito mais resguardado, porque eu já sofri ameaça aqui, não foi nem uma, nem duas, para ser bem sincero já chegou dia do cara entrar aqui na Federação e falar, cara, você está falando demais, você está denunciando, toma cuidado porque, sabe, boca fechada não entra mosca .

26 anos, indígena, candidato

Nesses primeiros dias [de mandato], eu já fui entendendo o que eram momentos de pressão mais intensa. Já sofri ameaças de violência física, inclusive, formas de perseguição (....). Vivi expressões diferentes dessa experiência e algumas coisas com bastante perigo. O fato de receber ameaças foi algo bem chato, bem difícil, mas não cheguei a pensar em desistir. Pelo contrário, estou tentando extrair dessas questões mais forças para ir adiante e aprofundar nosso projeto.

29 anos, negro, eleito

Todo esse desgaste afeta principalmente a vítima. Impacta de forma negativa a sua saúde mental e atuação política. Ao mesmo tempo, há diferentes estratégias que os jovens encontraram para lidar com isso: utilizar as redes sociais e informações confiáveis para desmentir as fake news; encaminhar os ataques para as instâncias jurídicas; artigos em jornais e revistas sobre o enfrentamento à violência política; criação de regimentos internos que possam impedir a atuação de práticas racistas e transfóbicas no serviço público; promoção de campanhas em conjunto com outros movimentos e coletivos que possam chamar a atenção sobre a temática; entre outras. Tudo isso tem a capacidade de alterar as lógicas de poder, de dentro para fora das estruturas, fortalecendo pautas e ações a favor da equidade e de uma política mais saudável. 

SAÚDE MENTAL E PRIVACIDADE

A privacidade é uma coisa de que a gente abre mão no momento em que sai o resultado das eleições.

Paulo Juventude, 19 anos, vereador eleito em São Roque (SP).

Equilibrar a vida pessoal com a profissional não é fácil. Imagine que você é um vereador, uma deputada estadual ou uma prefeita. Sua rotina muda completamente, porque você naturalmente sofre mais exposição pública. Cuidar da saúde mental, dar atenção a esse cuidado, é essencial para atravessar os desafios que a jornada na política institucional e eleitoral apresenta. Não só para jovens.  Levar em consideração a política do autocuidado é ver a saúde como algo essencial para a prática política.

Jovens na política estão mostrando o quanto a rede de apoio atenta e acolhedora com a saúde mental é importante para manterem-se vivos e firmes em suas jornadas. A carga emocional advinda da política é grande, assim como a expectativa, a pressão, as agressões verbais, físicas e ameaças online, que muitos já carregam em sua trajetória pelo simples fato de serem quem são e terem a sua ação política voltada para a ressignificação do poder. Construir uma teia solidária e de afeto é importante para que o jovem possa reivindicar seu lugar na política e continuar sendo jovem. Carregar a bandeira de uma política que preza por cuidado, autoestima, humanidade, alegria e diversão com responsabilidade é um dos legados que esses jovens querem deixar para o presente e para o futuro. 

DESIGUALDADES DE RECURSOS IMPACTAM A JORNADA DE JOVENS NA POLÍTICA

Internet, logística e mobilização territorial são estratégias fundamentais para a realização de uma campanha. É a partir daí que a população tem oportunidade de conhecer a pessoa candidata, suas propostas e ações. Mas nem todo mundo tem as mesmas condições: comunidades indígenas, quilombolas, moradores de periferias urbanas, zonas rurais, são exemplos de grupos com menos oportunidades de acesso à recursos.  Em um mundo super conectado e com eleições cada vez mais digitais (a pandemia forçou e também fortaleceu muito esse movimento), além da falta de recursos e espaço de visibilidade, fica difícil compartilhar informações tão essenciais na hora de mobilizar suas pautas e agendas.

“Se nós estamos falando de mulheres negras e travestis nós estamos falando de dinheiro e condições reais dessas mulheres se elegerem, não quero apenas ser candidata quero ser candidata para ganhar, para ganhar preciso de tempo de TV”

Érika hilton,
vereador mais votado do Brasil em 2020

Para realizar sua jornada na política, jovens de comunidades tradicionais precisam atravessar rios, preconceitos, racismos e, muitas vezes, acabam ficando de fora do jogo político por não terem apoio necessário na hora da campanha.

Para realizar as ideias transformadoras na política, a gente precisaria ter recurso financeiro , não para comprar ninguém, não, mas para chegar nas comunidades que são muito distantes da sede do município. Uma comunidade é muito longe da outra e a gente não consegue chegar com facilidade, porque todas são pelo rio, a maioria são pelo rio, a gente tem que usar embarcação, usar combustível e isso a gente não tinha para fazer toda essa logística, para a gente chegar nesses lugares que são mais distantes.

Hugo Lério,
candidato a vereador em Oriximiná (PA)

Os jovens são ativos e importantes na política brasileira. Eles encabeçam as agendas de inovação política e as pautas que fortalecem a democracia no Brasil. Mas será que os/as jovens são apoiados quando tomam a decisão de se candidatar a um cargo político eletivo? 

 

O ponto que queremos levantar aqui é a desigualdade de acesso aos recursos financeiros que impactam jovens na política, principalmente aquelas e aqueles que provêm de maiorias minorizadas, historicamente marginalizadas e que não detêm privilégios financeiros e já sofrem com a desigualdade estrutural imposta em nossa sociedade. 

Para ver rostos novos e inovadores na política, também precisamos falar de distribuição de renda. Junto com o data_labe, laboratório de dados e narrativas na favela da Maré – Rio de Janeiro, fizemos uma pesquisa sobre os investimentos em candidaturas jovens nas eleições 2020, a partir dos dados do TSE, para entender um pouco mais como foram usados os recursos financeiros e a necessidade de falar sobre uma melhor distribuição de recursos para um

Os jovens são ativos e importantes na política brasileira. Eles encabeçam as agendas de inovação política e as pautas que fortalecem a democracia no Brasil. Mas será que a juventude brasileira está bem representada na política institucional? Os jovens são apoiados quando tomam a decisão de se candidatar a um cargo político eletivo?

Jovens, de 18 a 29 anos, representam 18,1% da população residente no Brasil, segundo os dados da PNAD Contínua 2019, e 23,83% do eleitorado brasileiro. Já nas eleições municipais de 2020, entre os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador no país, 8,4% eram jovens, totalizando 47.048 candidatos. Quando consideramos apenas os candidatos jovens que foram aptos à candidatura até o momento da urna e os candidatos que tiveram um valor de receita de campanha declarado superior a zero, esse número diminui para 34.213.

Entre os candidatos jovens aptos e com valor de financiamento de campanha declarado superior a zero, apenas 1.497 foram eleitos, menos de 0,5% do total. O valor médio de campanha dos candidatos jovens eleitos foi de R$15.296,00, enquanto o valor médio dos não eleitos foi de R$4.199,00. Ou seja, campanhas de candidatos que foram eleitos demandaram recursos maiores e existe uma barreira maior de elegibilidade para jovens que recebem um valor menor para a realização da campanha eleitoral.

No Brasil, os partidos políticos têm duas fontes de recursos públicos para financiar as campanhas dos seus candidatos nas eleições: o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), conhecido como Fundo Eleitoral, e o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, o Fundo Partidário. Os recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário são distribuídos aos partidos políticos, de acordo com critérios estabelecidos, e estes repassam para os candidatos como bem entenderem.

Entre os 34.213 candidatos aptos e com valor de campanha superior a zero, 16.232 declararam ter recebido financiamento via fundos públicos (Fundo Eleitoral e/ou Fundo Partidário) e 28.190 candidatos declararam financiamento de outros fundos (doações de pessoas físicas, financiamento coletivo ou bens emprestados com valor declarado para campanha).

Os candidatos do gênero masculino representam 54,6% dos candidatos jovens e do gênero feminino, 45,4%. Os homens receberam mais recursos do que as mulheres via fundos públicos.

Como a distribuição dos recursos entre os candidatos é muito desigual, usamos o valor mediano como medida de resumo. Entre os candidatos masculinos de maior renda (mais de R$2.890), 50% receberam até R$29.649. Já entre os femininos, 50% receberam até R$ 13.261. Entre os candidatos masculinos de menor renda, 50% receberam R$ 178 e entre os femininos, 50% receberam R$173.